Notas – Cap. 9

Capítulo 9

1-
No NT, a palavra grega metamorphothe foi usada apenas em Mt 17.2, Rm 12.2 e 2Co 3.18, sempre com o sentido de transformação radical de um ser em outro ser. Em relação à vida diária dos cristãos, significa uma mudança total de caráter, abandonando os costumes mundanos e adotando um estilo de vida próprio dos cidadãos do céu. O objetivo da transfiguração foi manifestar, ainda que brevemente, aos discípulos mais chegados, a glória de Jesus encoberta por causa de sua encarnação. Jesus antecipou a visão da sua ressurreição e do seu glorioso retorno. [voltar ao texto]

2 - Rabi ou Rabbi é a palavra hebraica comumente traduzida por "Mestre". Pedro se prontificou, ainda que estarrecido, a recriar o antigo ponto de encontro de Deus com seu povo (conhecido como tenda, cabana ou tabernáculo – Êx 29.42; Lv 23.42). [voltar ao texto]

3 - O sentido mais amplo da expressão: "a Ele dai ouvidos", ou simplesmente, "a ele ouvi", como aparece em algumas versões, está relacionado à profecia de Dt 18.15, onde o termo "ouvir", nos originais hebraicos significa "ouvir e obedecer". Quando se trata da voz de Deus a única maneira correta de ouvir é obedecendo (Tg 1.22-25). [voltar ao texto]

4 - Jesus faz referência à vinda de João Batista (Mt 17.10-13). João, assim como Elias, sofreu a oposição de um rei inseguro, influenciado por uma rainha pagã e perversa. Elias realizou a obra de restauração do culto a Deus, especialmente no monte Carmelo, e foi uma prefiguração de João, que veio iniciar (preparar o caminho) a restauração total do ser humano. Obra essa concluída por Jesus (Ef 1.7-10). As ameaças de Jezabel em relação a Elias concretizaram-se na vida e no ministério de João e preanunciaram a chegada do Messias (1Rs 19.1-10). [voltar ao texto]

5 - Possessão demoníaca é a ação de demônios (seres espirituais, anjos caídos, comandados por Satanás, e absolutamente malévolos), que invadem e dominam o sistema nervoso, a consciência sensorial, a sede da vontade humana; e que, enfim, tomam posse do corpo físico de uma pessoa, na qual ainda não habita o Espírito Santo, controlando suas ações e, por vezes, submetendo esse corpo humano a todo tipo de humilhações e sofrimentos. [voltar ao texto]

6-
Os discípulos, que já haviam expelido vários espíritos malignos, não puderam expulsar aquele demônio por absoluta incredulidade (Mt 17.14-21). Jesus adverte para o fato de que há graduação de poderes nas trevas, e que certa espécie de inimigos espirituais só podem ser expulsos por meio de profunda comunhão com Deus em oração e persistente devoção, que inclui o jejum. Apesar de a palavra "jejum" não aparecer em muitos originais gregos, é certo que Jesus e a Igreja primitiva praticavam o jejum como disciplina espiritual. Jesus aproveita aquele momento tenso e constrangedor para evidenciar que todas as coisas são realizáveis mediante a fé, e que a grande questão do ser humano é exatamente esta: a falta de fé. Deus pode tudo e a qualquer momento, mas as pessoas costumam "crer duvidando" e, por isso, o Senhor não pode honrar uma "fé falsa" ou "incompleta". A verdadeira fé elimina todas as barreiras espirituais na vida (Tg 1.5-8). [voltar ao texto]

7 - Jesus havia completado seu período de ministério às grandes massas na Galiléia e regiões vizinhas. Agora estava a caminho do seu próprio holocausto em Jerusalém (10.32-34). Jesus passou então a concentrar, ainda mais, seus ensinos e discipulado na vida dos seus Doze seguidores mais próximos. [voltar ao texto]

8 - Dúvidas sobre a posição hierárquica no Reino ocupavam a mente dos discípulos. A posição social sempre foi uma grande ambição humana, especialmente na cultura judaica daquela época e em função da possibilidade da instauração de um novo "reino" (sistema político-religioso). Entretanto, Jesus esclarece que a honra e o poder no Reino de Deus são conquistados por amor, humildade, generosidade e serviço ao próximo. Como os bons pais cuidam de seus filhos pequenos (Lc 9.47). Por "pequeninos" pode-se entender: as crianças, os novos convertidos e os cristãos em fase de amadurecimento espiritual (Rm 14; 1Co 8 e 9). [voltar ao texto]

9 - Jesus desaprova o sectarismo (partidarismo ferrenho das doutrinas e preceitos de uma seita) e o proselitismo (ação ostensiva visando mover pessoas de uma seita para outra). Devemos manter comunhão com todos os cristãos que foram regenerados pelo Espírito de Deus, isto é, com todos os Salvos, independentemente do seu grupo doutrinário. Por outro lado, é inadmissível que um cristão verdadeiro seja neutro em relação ao senhorio de Cristo. Ou se é, ou não se é cristão. Para Jesus não existe o "cristão nominal", ou seja, aquela pessoa que crê em Deus, mas não procura viver uma vida em comunhão com o Espírito Santo. A unidade da Igreja nem sempre será obtida por meio de uma unanimidade teológica; porém, muitas vezes, no serviço humilde, generoso e compreensível do amor fraternal em Cristo (Mt 25.34-46 conforme Mt 18.1-10 e Lc 17.1). [voltar ao texto]

10 - O amor de Deus por seus filhos é tão grande que o suicídio seria a melhor solução para alguém que deliberadamente tentasse desviá-los do verdadeiro Caminho. Jesus usa literalmente o termo "pedra de asno", para referir-se a uma grande placa de pedra, comumente girada por jumentos, para moer grãos e cereais. [voltar ao texto]

11 - Jesus usa uma hipérbole (figura de linguagem que transmite um ensino por meio do exagero das afirmações ou comparações) para ressaltar a necessidade de uma ação drástica. Muitas vezes o pecado ou um mau hábito só poderá ser vencido por uma "cirurgia espiritual radical". A palavra grega geenna é traduzida por "inferno" e aparece apenas nos Evangelhos e em Tg 3.6. Seu sentido original corresponde a um "grande depósito de lixo". Jesus cita a última palavra de advertência proferida por Isaías em relação ao perigo da condenação eterna daqueles que teimam em viver rebeldes ao Espírito de Deus (Is 66.24). Num "grande depósito de lixo" há sempre vermes se revolvendo (Mt 5.22). [voltar ao texto]

12 - No AT era exigido que se colocasse sal sobre o sacrifício (Lv 2.13 com Ez 43.24). Todo cristão deve ser um sacrifício para Deus (Rm 12.1). Na vida cristã, o sal é representado, por provas, purificação pelo fogo da justiça divina, perseguições do Inimigo e deste mundo (1Co 3.13; 1Pe 1.7; 4.12). [voltar ao texto]

13 - Na época de Jesus o sal era vital para temperar, dar sabor e conservar os alimentos, especialmente as carnes vermelhas e os peixes. Ele se compara, portanto, à firme convicção do cristão que vive corajosa e intensamente o Evangelho (8.35-38). [voltar ao texto]