Capítulo 15
1 - A primeira reunião do Sinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus) ocorreu informalmente durante a noite, envolvendo apenas alguns integrantes pactuados com a idéia de eliminar Jesus. Logo ao amanhecer, quando começava o dia de trabalho de um oficial romano, foi necessário formalizar, por escrito, a decisão de entregá-lo a Pilatos perante a maioria do Sinédrio reunido. Era sexta-feira (da Paixão, como viria a ser conhecida até hoje) e o sumo sacerdote e alguns outros membros do Sinédrio resolveram denunciar Jesus, a Pilatos, por traição e blasfêmia (Lc 23.1-14). Pilatos era o governador romano da Judéia (de 26 a.C. a 36 d.C.). Sua residência oficial ficava em Cesaréia, no litoral do Mediterrâneo. Todos os anos, quando visitava Jerusalém, costumava hospedar-se no suntuoso palácio construído por Herodes, o Grande, localizado próximo do Templo. Em uma das salas do palácio, chamada Pretório, ocorreu o julgamento romano de Jesus sob a autoridade civil de Pilatos. [voltar ao texto]
2 - Conforme profetizado em Is 52.15 e Is 53.7. [voltar ao texto]
3 - Barrabás era membro dos zelotes, um grupo judaico revolucionário. Sob o governo dos prefeitos romanos, ações de insurgência e tumulto eram freqüentes, especialmente nos grandes ajuntamentos e festas nacionais como a Páscoa (Lc 13.1). Curiosamente, alguns manuscritos de Mt 27.16 revelam que o outro nome de Barrabás era Jesus, o mesmo nome humano do Senhor. Marcos fala sobre a insurreição liderada por Barrabás como sendo um fato histórico, bem conhecido dos judeus da época. [voltar ao texto]
4 - Os oficiais romanos vestiam uma capa, cuja cor, vermelho vivo, representava a realeza e o poder do império romano sobre o mundo. Para zombar da majestade de Jesus, o vestiram com uma velha capa e sobre sua cabeça forçaram uma coroa feita de uma planta (em grego significa "abrolhos") venenosa e espinhosa comum na Palestina. E para completar a humilhação lhe dirigiam uma paródia da tradicional saudação de reverência a César: "Salve, César!". [voltar ao texto]
5 - Este Simão foi o pai do mesmo Rufo de Rm 16.13. Era natural de Cirene, importante cidade da Líbia, na África do norte (At 13.1), onde vivia uma grande população judaica. Era conhecido como "Níger" (negro). [voltar ao texto]
6 - Era um costume judaico amenizar a dor do martírio, oferecendo ao crucificado uma mistura de entorpecentes com vinho (Pv 31.6). A mirra é uma especiaria extraída de plantas nativas dos desertos da Arábia e de partes da África (Gn 37.25). Jesus, entretanto, preferiu suportar todo o sofrimento completamente lúcido, pois ninguém estava lhe tirando a vida. Em submissão voluntária ao Pai, Ele a estava ofertando como holocausto pela remissão do pecado de todos aqueles que crêem no seu sacrifício vicário (Zc 13.1; Mc 10.45; Rm 5.8). [voltar ao texto]
7 - Em algumas versões da Bíblia aparece a forma judaica usada na época para marcar as horas (traduzido do grego como: "a hora terceira"), e que corresponde às nove horas da manhã (Lc 23.44; Jo 19.14). João, por sua vez, usa a maneira romana ("a hora sexta" ou próximo ao "meio-dia"). Conforme o costume, escrevia-se a acusação numa tábua de madeira, que seguia à frente do sentenciado até o local da execução, quando era então pregada na cruz logo acima da sua cabeça. Marcos sumariza a inscrição, mas João percebe na frase acusatória um relevante dado teológico e profético (Jo 19.19-22). [voltar ao texto]
8 - Algumas versões trazem a expressão "ladrões", todavia o termo grego: evoca o sentido de que aqueles homens eram culpados por crimes de alta traição (insurgência), contra o império romano e por banditismo. O crime de latrocínio não era considerado um delito capital, a não ser quando seguido de morte. [voltar ao texto]
9 - Sem perceber, o próprio sumo sacerdote e os principais teólogos da época, estavam afirmando com clareza o poder e a missão do Cristo (o Messias) sobre todo o Israel, ou seja, todo o povo de Deus (Gl 6.16). A verdadeira fé salvadora não se apóia em sinais e maravilhas visíveis, mas na firme convicção criada no coração de cada pessoa pelo próprio Espírito Santo (Jo 20.29). E este é um milagre envolto em grande mistério, graça e maravilha. [voltar ao texto]
10 - Algumas versões preservam a maneira grego-judaica de contar as horas: "da hora sexta até a hora nona" (KJ de 1611). [voltar ao texto]
11 - Jesus falou no seu dialeto de família, uma mistura de aramaico com hebraico. Suas palavras, traduzidas aqui por Marcos, continham as expressões proféticas do Salmo 22.1. Ao se identificar com nossos pecados e assumir os erros de cada ser humano (2Co 5.21; Gl 3.13), Jesus, por um momento, teve de sentir a dor da separação do Pai. Enquanto o sacrifício vicário ia sendo aceito por Deus, a humanidade era salva e restaurada. A separação do Pai é o maior sofrimento destinado àqueles que preferem viver em pecado. Deus não pode ter qualquer comunhão com o pecado (o mal), embora ame o pecador e lhe ofereça a salvação pela graça da fé em Cristo, Seu Filho. [voltar ao texto]
12 - Algumas pessoas compreenderam mal as palavras de Jesus e pensaram tê-lo ouvido dizer: "Eli, Eli!", ou seja, "Elias, Elias". Os judeus, em momentos de grande necessidade, costumavam clamar por "Elias", pois se cria que Elias, por haver sido arrebatado à presença de Deus, viria em socorro dos justos e inocentes, sempre que estes passassem por grandes aflições. [voltar ao texto]
13 - João nos revela que o grito de triunfo de Jesus foi: "assim está", que em grego significa: "consumado" (Jo 19.30). O brado de Jesus é mais uma demonstração de que Ele entregou sua vida e não foi consumido pela morte. Os crucificados passavam, em geral, por longos períodos de intensa agonia, exaustão e perda dos sentidos até que a morte os vencesse. [voltar ao texto]
14 - O véu do santuário ou do Lugar Santíssimo (Hb 6.19; 9.3; 10.20) era a cortina que separava o Lugar Santo do Santo dos Santos (Êx 26.31-33). O partir desse véu tem profundo significado para toda a humanidade. Cristo entra e abre as portas do céu, a fim de que todo cristão sincero tenha acesso à presença de Deus Pai (Hb 9.8-10,12; 10.19,20). Os sacerdotes estavam no templo para a liturgia das tardes. [voltar ao texto]
15 - Um centurião era um militar romano que respondia pelo comando de pelo menos cem soldados. O original grego indica que este homem reconheceu Jesus como "O" Filho de Deus, e não apenas "um" filho de Deus (Mt 27.54; Lc 23.47). Seu testemunho de espanto diante do poder de Jesus passou para a história da Igreja de muitas maneiras. [voltar ao texto]
16 - Por causa da compaixão e da dignidade com que Jesus tratava as mulheres (marginalizadas em sua época e cultura), muitas salvas, tornaram-se discípulas do Senhor. Em 16.9 e Lc 8.2, somos informados de que Jesus expulsou sete demônios de Maria Madalena. Havia também Maria, mãe de Tiago, o mais jovem, e de José (de quem não se sabe mais nada). Salomé era mãe de João e Tiago, mulher de Zebedeu (Mt 27.56). João cita, Maria, mãe de Jesus (Jo 19.25-27). [voltar ao texto]
17 - Jesus morreu na sexta-feira (dia em que os judeus se preparam para o sábado), às três horas da tarde (v.34). Restavam apenas três horas para o início do Shabbãth, sábado judaico, no qual todo trabalho era proibido. Por isso a urgência em retirar o corpo da cruz e prepará-lo para o sepultamento. Mais uma forte alusão à urgência com que os judeus tiveram de comer a Páscoa antes de saírem para a terra prometida, e a urgência que temos de nos prepararmos para a segunda vinda do Senhor e do Grande Dia (Mt 22.1-14; 24.32-44; 25.1-13). [voltar ao texto]
18 - Muitos historiadores e teólogos afirmam que as informações sobre o julgamento forjado pelo Sinédrio contra Jesus chegaram a Marcos por intermédio de José. Um justo e eminente juiz, da cidade de Arimatéia (Ramataim, Sm 1.1), que ficava cerca de 30 km a noroeste de Jerusalém. José era também um discípulo de Jesus, que manteve sua fé em sigilo até este ato de grande coragem (Mt 27.57; Lc 23.52). Os corpos dos crucificados por crimes de traição não eram liberados para os ritos judaicos de sepultamento nem mesmo aos familiares mais próximos. [voltar ao texto]
19 - José ofereceu o próprio túmulo da família, nunca antes usado, cravado na rocha (Mt 27.60). Esse túmulo ficava num jardim, próximo ao local da crucificação (Jo 19.41). No primeiro século esse lugar transformou-se num cemitério, onde hoje está situada a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. O sepulcro era fechado por uma grande pedra em forma de disco que girava sobre um sulco e, no caso de Jesus, lacrada com o selo imperial romano. [voltar ao texto]
Notas – Cap. 15
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