Notas – Cap. 7

Capítulo 7

1
- Os líderes religiosos dos judeus na época, movidos principalmente por inveja e motivos políticos escusos, mandaram uma delegação de mestres da lei (fariseus) para fazer uma espécie de auditoria teológica e devassa no comportamento social e privado de Jesus, com o objetivo de encontrar ou forjar um motivo pelo qual Jesus pudesse ser condenado à pena de morte (Mt 2.4; 15.1-11). [voltar ao texto]

2 - A visão dos judeus, notadamente os líderes religiosos, sobre a pureza espiritual era extremamente cerimonial. Portanto, facilmente perdiam de vista o espírito da lei (o principal propósito) e restringiam-se ao cumprimento de ritos e procedimentos. Assim, para eles, todo contato com pagãos (inclusive respirar muito próximo o mesmo ar), ou mesmo com outros judeus que não guardavam as leis cerimoniais, se constituía numa imundícia (ou contaminação) espiritual; e, por isso, se fazia necessário passar pelos ritos cerimoniais de lavar as mãos e os braços até os cotovelos, derramando sobre eles água pura e fresca (v.4). Portanto, era comum nas festas prolongadas e com muitos hóspedes, reservarem-se grandes recipientes com água. [voltar ao texto]

3 - O cerimonial de purificação, realizado todas as vezes que um judeu retornava para casa, era repleto de detalhes ritualísticos. Algumas versões da Bíblia trazem a expressão "se aspergirem" em vez de "se banharem", cujo significado literal é "se batizarem", ou seja, observar um ritual de imersão. [voltar ao texto]

4 - A hipocrisia, ao lado da arrogância, é um dos mais perversos e sutis dos pecados; e ataca especialmente aos líderes religiosos. Quanto maior expressão um líder granjeia, mais vulnerável se torna. Hipócrita é toda pessoa falsa e dissimulada, cujas palavras de apologia à moral e ao cumprimento rígido das leis, normas, convenções e rituais (especialmente religiosos) não têm qualquer respaldo ou correspondência direta com suas atitudes públicas e vida íntima. Isaías denunciou severamente os líderes religiosos de sua época (Is 29.13). Malaquias, embora muitos pensem que seu principal tema fosse o dízimo, na verdade, era a corrupção e a hipocrisia generalizada do povo de Israel, a começar por seus líderes e mestres (sacerdotes) religiosos. [voltar ao texto]

5 - Os mandamentos de Deus estão todos registrados na Bíblia e são obrigatórios. As tradições, normas de conduta e estatutos dos antigos mestres, não são bíblicos e, portanto, não são autorizados, muito menos, obrigatórios. Os anciãos (líderes da religião judaica) se ocupavam da interpretação e exposição da Lei de Moisés, mais tarde codificada num manual chamado de Mishná, que por sua vez, deu origem ao Talmude, que é um comentário extenso e detalhado da Mishná. [voltar ao texto]

6 - "Corbã" é a transliteração de uma palavra hebraica que significa "oferta". Muitos judeus religiosos estavam afirmando que haviam feito "Corbã" com seus bens, ou seja, doado o dinheiro da aposentadoria dos pais para Deus (mais propriamente para os sacerdotes do Templo) e, por isso, não tinham como ajudá-los. Ocorre que a Lei não prescrevia que todo o dinheiro devia ser doado. Além disso, muitos jovens judeus estabeleciam um acordo com os sacerdotes e recebiam parte da "oferta" de volta. [voltar ao texto]

7 - A mente humana é facilmente enredada por falsos juízos em função de suas muitas ambições. Por isso devemos agir sempre como os cristãos bereanos (At 17.11). Os fariseus estavam recorrendo a um texto isolado da Lei (Nm 30.1,2) para defender o voto do "Corbã". Jesus aproveita para ensinar uma regra básica de interpretação bíblica: a obediência a um mandamento específico das Escrituras jamais pode anular os outros mandamentos gerais de Deus. A conclusão tirada pelos anciãos sobre Nm 30.1,2 satisfazia a letra do texto bíblico, mas era contrária ao sentido (espírito) global da Lei. [voltar ao texto]

8 - Em hebraico, mashal, o termo traduzido aqui por "parábola", significa "ilustração, figura, imagem" e tem o sentido de uma expressão proverbial ou história de moral, que acompanha a vida de uma pessoa como um sinal luminoso. Este acende sempre que necessário, para avisar de algum perigo iminente ou trazer à memória uma maneira sábia de agir. [voltar ao texto]

9 - Marcos, primo de Barnabé e grande amigo dos apóstolos Pedro e Paulo, preocupa-se em fazer comentários sobre a Lei, usos e costumes dos judeus. Seu objetivo era esclarecer sua principal audiência: os gentios, mais precisamente, o número elevado de romanos que estavam sendo convertidos pelo Espírito Santo (entre 50 e 70 d.C.). Os discípulos tiveram de aprender com Jesus sobre a desobrigação de os cristãos guardarem as leis e cerimônias do AT referentes às comidas puras e impuras (Lv 11; Dt 14; At 10.15). [voltar ao texto]

10 - Jesus ensina e adverte que a fonte do pecado humano é o coração (centro das emoções e da razão), e não o estômago. O coração tem para o mundo ocidental o mesmo significado que "as entranhas" ou "os intestinos" têm no mundo oriental. Ou seja, representam o centro da personalidade, incluindo o intelecto, a volição, e todas as emoções e desejos humanos. Por isso, a comunhão (amizade reverente) com Deus não pode ser interrompida por causa de mãos ou alimentos com impurezas, mas, sim, pelo pecado consciente, intencional e renitente. Mais do que lavar as mãos, é necessário limpar (lavar, purificar) a mente, pois Deus não faz distinção entre pecados elaborados e alimentados nos pensamentos, e os consumados por ação. Segue-se uma lista, como exemplo, de alguns pecados comuns, mas que não deveriam fazer parte da vida diária de um cristão pleno do Espírito Santo. A palavra "inveja" no original grego é: "olho mau", cujo sentido não é apenas o desejo ardente pelas posses de outrem, mas igualmente a falta de generosidade, literalmente, o ser "pão duro". A palavra "insensatez", traduzida em algumas versões por "loucura", não tem o sentido de uma enfermidade mental, mas sim, de total negligência do pecador (aquele que aprecia seu estilo de vida mundano) em relação às suas responsabilidades para com Deus, com seu próximo e com a sociedade (religião e ética). [voltar ao texto]

11 - Tiro era uma cidade povoada por gentios. Localizada na Fenícia, onde hoje é o Líbano, fazia fronteira com a Galiléia, a noroeste. Jesus viajou cerca de 50 km de Cafarnaum até os arredores de Tiro. Desde o milagre da multiplicação dos pães e peixes (6.30-44), Jesus e seus discípulos passaram a evitar os grandes centros e a ministrar nas periferias da Galiléia. Jesus procurava evitar os confrontos infrutíferos com os fariseus e escribas, e dedicar-se cada vez mais ao discipulado dos Doze (9.30,31). A palavra grega koinos, aqui traduzida por "contaminam", significa "comum", e seu sentido tem a ver com o fato de os pecados poderem assumir a condição de parte integrante do ser humano, caso não haja arrependimento, confissão e perdão. O Espírito Santo é o grande aliado dos cristãos na tarefa de manter suas mentes sensíveis e purificadas (Jo 14.16-27). [voltar ao texto]

12 - A mulher apresentada por Marcos falava grego e vivia numa cultura grega, mas era de nacionalidade siro-fenícia, uma vez que naquele tempo a Fenícia pertencia administrativamente à Síria. [voltar ao texto]

13 - Jesus se refere aos israelitas que, pela primeira aliança eram os filhos prediletos de Deus (Êx 4.22; Dt 14.1). Jesus segue a missão designada ao Servo (Is 49.6), trazendo, em primeiro lugar, Salvação aos judeus (Rm 15.8). [voltar ao texto]

14 - Essa é a única ocasião, no evangelho segundo Marcos, em que Jesus é chamado "Senhor". [voltar ao texto]

15 - Jesus usa uma palavra do seu dialeto hebraico, o aramaico Efatá, que o próprio Marcos logo traduz em benefício da compreensão dos seus leitores gentios. [voltar ao texto]

16 - Jesus estava realizando, na prática, o que Deus prometera há muitos séculos por meio das profecias (Is 35.5,6). Ele procurava, porém, manter seu ministério, especialmente o de curas e sinais, longe da propaganda de massa, a fim de não atrair tão cedo a perseguição dos líderes religiosos e políticos da época (Mt 8.4; 16,20; Mc 1.44; 5.19,43). [voltar ao texto]

17 - Tanto o Pai, quanto o Filho, fazem tudo muito bem (maravilhosamente perfeito – Gn 1.31; Jo 5.17). Um dia toda a terra reconhecerá esse fato. É importante lembrar que Deus criou a terra e o ser humano, mas o Diabo criou este mundo caótico no qual vivemos. Hoje, pela fé, os cristãos devem assumir sua condição de embaixadores do Rei, cuja missão é proclamar a Salvação e os valores do Reino de Deus por toda a terra. [voltar ao texto]