Notas – Cap. 8

Capítulo 8

1
- O próprio Senhor nos afirma (vv.18-20) que este relato (8.1-10) é distinto do ocorrido anteriormente (6.34-44), muito embora sejam notáveis as semelhanças dos fatos. [voltar ao texto]

2 - Como este episódio aconteceu na Decápolis (7.31), certamente havia um grande número de gentios na multidão. Jesus se compadece (em grego: agape) do povo que demonstrava grande fome da Palavra, pois há três dias o seguia e ouvia seus ensinos sem se alimentar. Um grande exemplo para os cristãos atuais.

3 - Dalmanuta ficava ao sul da Planície de Genesaré, local em que Jesus desembarcou. Mateus chama a região de Magadã ou Magdala (Mt 15.39). Da mesma maneira como agiu na primeira multiplicação dos pães (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Jo 6.1-15), Jesus usa uma expressão original (vs.6 – em grego:
, "a reclinar-se"), que tem a ver com a atitude cultural dos judeus daquela época de quase deitarem sobre almofadas diante de mesas baixas, um ao lado do outro, em círculos, para fazerem suas refeições cotidianas. Ao solicitar que as pessoas "reclinassem sobre o chão" (se assentassem), Jesus estava comunicando a todos que o desjejum seria servido em seguida. [voltar ao texto]

4 - O pedido dos fariseus brotava da incredulidade. Tentaram fazer com que Jesus provasse ser um profeta maior do que Elias (1Rs 18.20-40). Queriam apenas ver um show cosmológico, mas Jesus apontou para o povo e sua longa história de fome espiritual e de justiça; assim como ocorreu no deserto com Moisés. O pão partido e multiplicado era o maior sinal para aquela "geração" (maneira de se referir a um tipo de gente mesquinha e hipócrita). [voltar ao texto]


5 - Os judeus, por causa dos mandamentos de Deus (Êx 13.7) evitam o uso de qualquer tipo de levedo (agentes de fermentação empregados na preparação de algumas bebidas alcoólicas não destiladas, tipo cervejas, e na panificação) na semana imediatamente após a Páscoa. Na época de Cristo a levedura era um símbolo comumente usado pelos mestres para se referir à má inclinação humana. Jesus faz uso desta metáfora para mostrar a procedência maligna dos pedidos dos fariseus e de Herodes Antipas (Lc 23.8) por um sinal espetacular nos céus para comprovação da sua divindade. Jesus enfatiza que o grande sinal estava na terra, junto à vida das pessoas a quem Deus amava. [voltar ao texto]

6 Mais uma prova de que Jesus fala de dois eventos parecidos, mas distintos é que no primeiro a palavra grega usada para "cestos"
 indica um pequeno cesto da época, feito de junco; e no segundo, a palavra grega usada para "cestos"  refere-se a um tipo de cesto grande, feito de tecido e capaz de suportar o peso de uma pessoa, como foi o caso ocorrido com o apóstolo Paulo (At 9.25). [voltar ao texto]

7 - Betsaida significa "casa de pesca" e se localizava numa planície ao norte do mar da Galiléia. Era a cidade natal de Pedro, André e Filipe (Jo 1.44). [voltar ao texto]

8 - Com a confissão de Pedro tem início a segunda metade de Marcos. A partir de agora Jesus muda a direção principal dos seus ensinos, deixa as grandes multidões e concentra-se no discipulado dos Doze. Ao grupo dos discípulos passa a revelar mais e mais sobre sua missão, morte e ressurreição. [voltar ao texto]

9 - A necessidade do sofrimento expiatório de Jesus é claramente apresentada no AT (Sl 22, 69, 118; Is 50.4, 52.13-53.12; Zc 13.7). Jesus costumava se referir a si mesmo como "Filho do homem" (81 vezes nos evangelhos). Título jamais usado por qualquer outra pessoa. Em Daniel (Dn 7.13,14), o filho de um homem é retratado profeticamente como personagem celestial a quem, no final dos tempos, Deus confiou autoridade, glória e poder soberano. O próprio Jesus passa a reforçar esse título junto aos seus discípulos. Pedro compreendeu que Jesus era o Messias prometido pelo uso que faz do termo grego "Cristo" (Messias, em hebraico). Os líderes religiosos eram os membros leigos (anciãos) do Sinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus), os chefes dos sacerdotes (Mt 2.4), entre eles o sumo sacerdote em exercício, Caifás; o sumo sacerdote anterior, Anás, e as respectivas famílias sacerdotais. [voltar ao texto]

10 - O sofrimento e a humilhação não correspondiam ao "Messias" que estava na mente de Pedro: o Libertador de Israel. Ao tentar persuadir Jesus a ter compaixão de si mesmo para não se entregar ao martírio e à morte, Pedro incorreu no mesmo discurso usado por Satanás no início do ministério do Senhor (Mt 4.8-10), e por isso Jesus precisou mostrar a todos os discípulos que tentar se desviar da vontade de Deus – não importa a razão – é cair nas artimanhas de Satanás e "errar o alvo" (expressão que em hebraico significa: pecado). [voltar ao texto]

11 - Jesus faz um convite não apenas aos Doze, mas a todas as pessoas. Devemos permitir que o Espírito Santo assuma o controle total das nossas vidas, antes dirigida pelo "eu" ou "ego" (fonte das nossas vontades, quase sempre contrárias à vontade de Deus). Tomar a cruz é a disposição de começar a seguir ao Senhor do jeito que somos e com aquilo que temos; e depois, aceitarmos a glória de vivermos e morrermos por Ele. Ao concluir, conclamando todos a segui-lo, Jesus estava dizendo que mostraria pessoalmente o caminho da verdadeira entrega a Deus, do sofrimento, do martírio, da morte e da ressurreição para uma vida eterna de comunhão com o Pai (Sl 49.8, Hb 9.27, Ap 21.8). [voltar ao texto]

12 - O mundo é um sistema globalizado de valores e princípios (filosóficos, políticos, econômicos e sociais) que, a cada geração, se afasta mais e mais da Palavra de Deus. Por isso, desde a Queda (Gn 3), Deus tem procurado corrigir a rota dessa humanidade perdida (Hb 1.1-2). Quem preferir se ajustar à sua geração (aos ditames do mundo de sua época) mais do que seguir a Cristo e aos princípios da Sua Palavra não poderá fazer parte do Reino de Deus, tanto aqui e agora, como na Nova Jerusalém, na eternidade futura e iminente (Ap 21.1-4). Ter "vergonha" de Jesus é muito mais que um simples ato externo de usos e costumes, timidez ou inabilidade de expressão. Esta palavra, em seu sentido original, tem a ver com a "honra de cultivar um caráter idôneo e amoroso em relação a Deus e ao próximo em todas as atitudes pessoais". Ou seja, envergonhar-se do Evangelho é não aceitar o compromisso com o discipulado de Cristo e preferir levar a vida conforme a ordem mundial impõe às pessoas de todas as culturas (Rm 1.16, 12.1). Entretanto, na volta triunfal de Cristo, todos aqueles que creram no Senhor o suficiente para enfrentar o mundo com um estilo de vida verdadeiramente cristão, serão honrados por Jesus e participarão da Sua glória eterna (1Ts 1.6-10). [voltar ao texto]